Morte de imigrantes evidencia falta de estrutura e fracasso da política migratória espanhola
11 abril , 2014
Opera Mundi
Um grupo de 300 pessoas, em sua maioria africanos
subsaarianos, tentou, no dia 6 de fevereiro, passar pela fronteira que separa o
Marrocos da Espanha. Em um primeiro momento, os imigrantes foram impedidos, por
policiais marroquinos e espanhóis, de pular a grade construída entre os dois
territórios. Impossibilitados de entrar pela via terrestre, uma parte do grupo
decidiu tentar a sorte a nado, contornando a barreira que se estende pela praia
de Tarajal, na cidade de Ceuta.
Segundo imagens capturadas pelas câmeras de vídeo
da Guarda Civil espanhola, agentes responsáveis pelo controle da fronteira
dispararam balas de borracha contra as pessoas que nadavam rumo às areias
europeias. Devido à ação policial, 15 pessoas morreram nas águas do
Mediterrâneo, e as que conseguiram chegar à praia foram encaminhadas novamente
ao lado marroquino da fronteira.
As mortes destes imigrantes não são um caso
isolado. Segundo dados coletados pela revista digital Fortress Europe, 19.507
mortes foram registradas em tentativas de entrar na Europa pela região do
Mediterrâneo desde 1988. Este número equivale à soma dos homicídios em Grécia,
Itália, Espanha e França nos últimos dez anos.
No centro deste debate sobre os efeitos da política
de imigração europeia e da militarização das fronteiras estão dois pequenos
municípios com cerca de 80 mil habitantes cada: Ceuta e Melilla. Ambas são
cidades autônomas espanholas situadas no Norte da África. Ceuta fica na ponta
africana do estreito de Gibraltar e Melilla, um pouco mais a Leste. Os dois
municípios estão rodeados por território marroquino e servem como uma das
principais portas de entrada de imigrantes e refugiados à Europa.
Portão de entrada dos imigrantes |
“Quando eu visitava a casa da minha família, a
cidade era diferente. Tinha a fronteira, mas não era uma cerca como é agora,
havia uma imigração em que se entrava e saía [da cidade]. Era uma população do
Norte da África que entrava para comprar, trabalhar e depois ia embora”, lembra
Mohammed Azahaf, coordenador do grupo árabe do PSOE (Partido Socialista Operário
Espanhol) e filho de marroquinos que migraram para Ceuta nos anos 1960.
Ele afirma que naquela época havia menos medo dos
imigrantes e que, apesar do receio de que a chegada massiva de pessoas pudesse
mudar o estilo de vida da cidade, a integração era mais fácil. Entretanto, quem
visita hoje tanto Ceuta como Melilla tem a sensação de que as cidades estão
sitiadas.
“O Estado diz que há uma pressão migratória, por
isso reforça a vigilância e sobe as cercas. As pessoas vêm que a cerca sobe e
que há mais vigilância e pensam que existe um perigo real. Quando você vai a um
bairro e vê que há muito polícia, pensa que é porque é perigoso. [...] O
governo age de maneira errada nisso, coloca muita vigilância e as pessoas já se
lembram do discurso do medo”, afirma Azahaf.
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