terça-feira, 22 de abril de 2014

Morte de imigrantes evidencia falta de estrutura e fracasso da política migratória espanhola


11 abril , 2014

Opera Mundi 

Um grupo de 300 pessoas, em sua maioria africanos subsaarianos, tentou, no dia 6 de fevereiro, passar pela fronteira que separa o Marrocos da Espanha. Em um primeiro momento, os imigrantes foram impedidos, por policiais marroquinos e espanhóis, de pular a grade construída entre os dois territórios. Impossibilitados de entrar pela via terrestre, uma parte do grupo decidiu tentar a sorte a nado, contornando a barreira que se estende pela praia de Tarajal, na cidade de Ceuta.

Segundo imagens capturadas pelas câmeras de vídeo da Guarda Civil espanhola, agentes responsáveis pelo controle da fronteira dispararam balas de borracha contra as pessoas que nadavam rumo às areias europeias. Devido à ação policial, 15 pessoas morreram nas águas do Mediterrâneo, e as que conseguiram chegar à praia foram encaminhadas novamente ao lado marroquino da fronteira.

As mortes destes imigrantes não são um caso isolado. Segundo dados coletados pela revista digital Fortress Europe, 19.507 mortes foram registradas em tentativas de entrar na Europa pela região do Mediterrâneo desde 1988. Este número equivale à soma dos homicídios em Grécia, Itália, Espanha e França nos últimos dez anos.

No centro deste debate sobre os efeitos da política de imigração europeia e da militarização das fronteiras estão dois pequenos municípios com cerca de 80 mil habitantes cada: Ceuta e Melilla. Ambas são cidades autônomas espanholas situadas no Norte da África. Ceuta fica na ponta africana do estreito de Gibraltar e Melilla, um pouco mais a Leste. Os dois municípios estão rodeados por território marroquino e servem como uma das principais portas de entrada de imigrantes e refugiados à Europa.
Portão de entrada dos imigrantes


“Quando eu visitava a casa da minha família, a cidade era diferente. Tinha a fronteira, mas não era uma cerca como é agora, havia uma imigração em que se entrava e saía [da cidade]. Era uma população do Norte da África que entrava para comprar, trabalhar e depois ia embora”, lembra Mohammed Azahaf, coordenador do grupo árabe do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) e filho de marroquinos que migraram para Ceuta nos anos 1960.

Ele afirma que naquela época havia menos medo dos imigrantes e que, apesar do receio de que a chegada massiva de pessoas pudesse mudar o estilo de vida da cidade, a integração era mais fácil. Entretanto, quem visita hoje tanto Ceuta como Melilla tem a sensação de que as cidades estão sitiadas.

“O Estado diz que há uma pressão migratória, por isso reforça a vigilância e sobe as cercas. As pessoas vêm que a cerca sobe e que há mais vigilância e pensam que existe um perigo real. Quando você vai a um bairro e vê que há muito polícia, pensa que é porque é perigoso. [...] O governo age de maneira errada nisso, coloca muita vigilância e as pessoas já se lembram do discurso do medo”, afirma Azahaf.

Fonte: http://www.ufjf.br/ladem/2014/04/11/morte-de-imigrantes-evidencia-falta-de-estrutura-e-fracasso-da-politica-migratoria-espanhola/

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